Taxar os ricos

Parece uma coisa óbvia, quase que mecânica, que o Estado tenha instrumentos para inibir a superconcentração de riqueza. Porém no Brasil não é assim. Pelo contrário, quanto mais se acumula, menos o Estado se reserva impedir o amontoamento de capital por parte de indivíduos, fazendo da desigualdade uma regra institucional no país.

Como era de se esperar, o trabalho ideológico é disseminado permanentemente pelos grupos dominantes, a fim de convencer os oprimidos de que se trata de um regime correto. Sem nenhum constrangimento, apela-se constantemente à meritocracia, à ideia do Estado sanguessuga, à inveja dos pobres, à bondade dos ricos que geram empregos, e outros bichos. Contra isso, o que cabe é não somente recordar, mas acima de tudo enfatizar massivamente óbvios fundamentos:

1-Toda riqueza é socialmente produzida. Ninguém fabrica nada sozinho, e o consumo gerador de emprego é resultado de uma demanda coletiva.

2-O lucro das empresas, de cujo uma parte irrisória é destinada a impostos, vem da mais-valia, logo, da exploração dos trabalhadores. Assim, não é dinheiro conquistado pelo esforço dos patrões.

3-A propriedade acumulada dos ricos só existe porque o Estado a protege, legal e coercitivamente. Do contrário, seria a guerra de todos contra todos. Assim, num Estado capitalista, os próprios ricos se beneficiam dos impostos arrecadados.

4-difícil, senão impossível, encontrar uma empresa que não tenha ascendido sem benefícios governamentais, com renúncias fiscais fartas e financiamentos a juros módicos.

5-No brasil, quem trabalha paga altos impostos. Quem não faz nada e vive de lucro e renda, não. É esse tipo de aberração que se tenta corrigir.

6-Taxar ricos não é taxar empresas. Como é a economia que interessa e não eles, as coisas seguem muito bem com tais mudanças.

Sem dúvida, esses problemas só fazem sentido dentro de uma lógica ultraliberal. Na forma superior de um sistema socialista, isso tudo estaria claro e fora de questão. Ninguém fica simplesmente rico. É o Estado liberal que o permite e o ajuda a enriquecer. Por conseguinte, é minimamente sensato que se cobrem os tributos desse auxílio.

Nós contra eles? Quem dera. Ainda chegará o momento da verdadeira luta.